Paula Fernandes é capa da Revista Veja BH - Edição de Fevereiro/2014.

Cantora Paula Fernandes assume as rédeas da carreira e decide tudo em seus shows.

Sem dar bola para a fama de cafona e de ser antipática com os fãs, ela comanda do repertório aos figurinos nos seus espetáculos.
Gustavo Andrade/Odin 
Pela primeira vez, a moça de 29 anos, não é apenas cantora, compositora e instrumentista, mas é também a diretora artística do seu próprio show. Depois de romper com a Talismã, empresa do sertanejo Leonardo que foi responsável pelo gerenciamento de sua carreira entre 2008 e 2012, ela assumiu as rédeas do próprio destino. Para a turnê nacional Um Ser Amor, cuja estreia foi em Belo Horizonte, ela cuidou pessoalmente de cada detalhe. Tudo tem a sua cara. No cenário, imensos painéis curvos de LED, efeitos especiais, cenas em 3D, parcerias virtuais, esteira e elevador. Durante o espetáculo, há seis trocas de figurino, sendo o último um vestido bordado com cerca de 3?000 cristais Swarovski. “Tenho a humildade de saber que estou começando e não vou acertar em tudo”, afirma.

Paula reúne em seus shows um público diverso: casais apaixonados, universitárias vestidas à la Paula Fernandes, com espartilho justinho, balzaquianas de botinhas country e saia curta e senhorinhas com mais de 65 anos que sabiam todas as músicas de cor. Fanática, a plateia soltava a voz tão alto que quase abafava o vozeirão da cantora. “Faço qualquer loucura pela Paula”, dizia, emocionada, Simone Hoin, fã da cantora que esteve na estreia da nova turnê.

Foto (acima) 2009 na Praça da Liberdade, quando ainda era pouco conhecida: hoje, um passeio impossível

Ao fim do show, na porta do camarim, a mecânica de máquinas industriais exibia o primeiro vinil de Paula - gravado quando ela tinha apenas 10 anos -, que custou 1?000 reais. “Eu só quero uma foto”, implora muitos fãs. Muitos tentam, alguns conseguem, mas existem aqueles voltaram para casa desapontados. “Sou uma só, não consigo atender a todos, por mais que eu tente”, explica a cantora, que algumas vezes foi criticada por ser antipática. “Tem gente que confunde ser reservada com ser metida.”
"Se dou a mão, já dizem que estou namorando... Os boatos evitaram que eu tivesse uma amizade como Roberto. É uma pena” Sobre o suposto relacionamento com o cantor Roberto Carlos.

O genial maestro Tom Jobim (1927-1994) costumava dizer que “no Brasil, sucesso é ofensa pessoal”. Paula não foge à maldição. Além da postura em relação aos fãs, ela é duramente criticada pela escolha de suas roupas. Sua marca registrada são figurinos que deixam em destaque a impressionante cinturinha de 56 centímetros. Ela também abusa de decotes e minissaias, sempre com um shortinho por baixo. “É o que salva a lavoura”, brinca. “A vulgaridade não está no tamanho da saia, e sim no comportamento de quem a usa”, filosofa. Ciente das reprovações, a cantora não dá bola para os comentários maldosos. “Criticar meu estilo é uma desculpa para ter o que falar de mim, já que não dá para dizer um ‘a’ sobre minha conduta”, desabafa. “Eu sei qual é a última tendência da moda, mas só visto o que me faz feliz.” Responsável pelos looks dos shows e dos eventos públicos, a estilista Patrícia Nascimento diz que alguém com um corpo tão lindo quanto o de Paula pode se permitir qualquer ousadia. Dona de uma agenda lotada - para conseguir um horário com ela, é preciso entrar em uma lista de espera de pelo menos dois meses -, Patrícia conta que muitas clientes chegam a seu ateliê querendo as roupas da cantora. “Elas não assumem, mas percebo que todas as referências vêm da Paula”, afirma a estilista, que já confeccionou para a estrela mais de 100 peças, com valores que vão de 5.000 a 30.000 reais.

Com seu jeitinho de menina brejeira, embalada pela receptividade ao estilo sertanejo romântico, Paula conquistou o país. No domingo (9), quando foi a apresentadora do programa Sai do Chão, exibido pela Rede Globo, seu nome foi o segundo termo mais procurado no ranking de buscas do Google no Brasil. Em meio à crise da indústria fonográfica, que sofre com o declínio das vendas, a artista conseguiu atingir o patamar de 3,4 milhões de CDs e DVDs comercializados em três anos. “Se souber administrar sua carreira, ela vai se eternizar na música”, prevê a cantora Roberta Miranda. Um dos primeiros a apostar no talento da mineirinha, Zezé Di Camargo concorda. “Ouvir Paula produz uma sensação de estar navegando no poluído Rio Tietê e, de repente, a água ficar cristalina. É paz”, elogia.


A vida da menina pobre, que nasceu em Sete Lagoas, a 65 quilômetros da capital de Minas Gerais, e passou a infância em um sítio ao pé da Serra do Cipó, se transformou nos últimos anos. Paula Fernandes é hoje uma mulher rica, mas não gosta de falar sobre dinheiro. Garante que não sabe quanto tem no banco. Quando quis comprar uma picape Range Rover - que ela chama de Branca de Neve -, pediu autorização à mãe, Dulce Souza, de 47 anos. “Eu trabalho por gostar, não por dinheiro”, diz. “Mas não sou uma alienada, sei do cálculo das despesas. Gastar é fácil, mas ganhar é difícil.” Com sessenta funcionários em sua empresa, a Jeito de Mato, Paula faz dezesseis shows por mês. Cobra, em média, 400.000 reais para pisar com seu salto 15 em um palco. Uma mudança radical para quem, há menos de uma década, recebia 40 reais para se apresentar por quatro horas em barzinhos de Beagá.

Com o dentista Henrique do Valle: o primeiro namoro assumido publicamente

Paula iniciou a carreira aos 8 anos, mas nasceu para o Brasil em 25 de dezembro de 2010, quando Roberto Carlos a chamou para seu programa de fim de ano exibido pela Rede Globo. “Ela tem um estilo muito especial. Inconfundível. E, além de tudo, é linda”, anunciou o rei. Com 1,65 metro de altura e 50 quilos, a moça mignon, vestida com um tomara que caia azul e sainha rodada, impressionou os quase 1 milhão de espectadores reunidos na Praia de Copacabana, no Rio de Janeiro. “Quando voltei para o hotel, as pessoas no saguão já me paravam para tirar foto”, lembra. “Daquele dia em diante, não consegui mais sair de casa.” Na época, as revistas de celebridades a apontaram como o novo amor do cantor. “Se dou a mão, já dizem que estou namorando”, reclama. “Os boatos evitaram que eu tivesse uma amizade com o Roberto. É uma pena.” Paula, que já foi apontada como namorada do cantor Victor Chaves, da dupla Victor & Leo, e de ter tido um affair com Marcio Bianchi, baterista de sua banda, sempre se manteve muito discreta sobre sua vida pessoal. O primeiro relacionamento assumido publicamente foi com o dentista Henrique do Valle, de 33 anos, que mora em Brasília. Há um ano e oito meses, o casal enfrenta a ponte aérea constantemente.

O que Paula mais deseja hoje na vida não está à venda: tempo e privacidade. Sempre que tem uma brecha na agenda, corre para casa, um tríplex no Mangabeiras. É ali que pode “andar de coque e camiseta velha” e comer bolinho de chuva. Gosta de fazer a própria unha e lavar o carro. “Vontade de olhar vitrines no shopping? Tenho todo dia. Mas não dá.” Para não cair nas armadilhas do sucesso, a estrela se agarra às raízes. Ainda vive com a mãe e o irmão, Nilmar, de 27 anos. “Lutamos morando em um barraco de dois cômodos. Agora curtimos tudo juntos.” A relação com o pai, o comerciante Oswaldo Fernandes, de 60 anos, é distante desde que ele se separou de Dulce, há doze anos. Já a mãe é seu porto seguro. Tanto que será a autora de um livro sobre a cantora, ainda sem data para ser lançado. “Ela viu tudo, sabe de tudo, ninguém melhor para contar essa história.” Biografia mais autorizada, impossível.

Tomar as rédeas da própria carreira é algo que ela está levando a sério. Durante um ensaio geral, em um galpão no Jardim Canadá, a cantora deixou evidente seu lado perfeccionista e centralizador. “Anota aí que é preciso diminuir 1 centímetro em cada alça do vestido”, disse para Cíntia Abreu, sua secretária. Também pediu para colocarem um corrimão na escada. “No escuro, vou acabar caindo.” Minutos antes de cada show, depois de fazer a própria maquiagem, ela reuni a equipe no camarim para rezar um pai-nosso e uma a­v­e-maria. “Se acontecer algum erro, continuem em frente. Não podemos parar.” Quando as luzes do palco se acendem, a gritaria é geral. Com tanto planejamento e proteção divina, não há o que temer!


Os passos do sucesso

2010

O rei Roberto Carlos apresenta Paula ao Brasil durante seu especial na Globo. “Ali acabou minha privacidade”, diz a artista.

2011
O CD e DVD Paula Fernandes - Ao Vivo vende 2,2 milhões de cópias, e ela é indicadaao Grammy Latino. “A primeira coisa que fiz com o dinheiro foi comprar uma casa e fazer um plano de saúde.”

2012
A cantora deixa a Talismã, empresa do cantor Leonardo que gerenciava sua carreira desde 2008, e funda o próprio escritório, Jeito de Mato. “Não ficaram mágoas.”
2014
Estreia nacional da turnê Um Ser Amor. Pela primeira vez, ela canta e também dirige o show. “Toda a produção tem a minha cara.”.